Chances de que criança com excesso de peso vire um adulto obeso são maiores. Falta de cuidados durante a infância pode acarretar doenças cardiovasculares
A obesidade pode se tornar uma epidemia mundial até 2030. É o que indica o Relatório Mundial da Obesidade 2022, que ainda aponta que, até esse período, o Brasil terá 7,7 milhões de crianças obesas.
O Atlas Mundial da Obesidade 2024 é um pouco mais drástico: o país pode ter até um terço das crianças com obesidade em 2035. Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2025, o número de crianças obesas no planeta chegará a 75 milhões. Em 2022, o número era de 39 milhões.
O acúmulo anormal ou excessivo de gordura no corpo traz uma série de malefícios à saúde, inclusive a infantil. Como as crianças têm sido apresentadas aos alimentos ultraprocessados cada vez mais cedo, doenças que ocorriam apenas na idade adulta mais avançada também têm atingido os mais jovens, incluindo as cardiopatias.
Para lidar com o problema, existe até uma data: 3 de junho, Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil.
Problemas futuros
Uma criança obesa está mais propensa a apresentar cardiopatias no futuro. O acúmulo de gordura pode provocar entupimento das artérias, diminuindo o fluxo de sangue e obrigando o coração a trabalhar mais. Quanto maior o sobrepeso, mais esforço o músculo precisa fazer para bombear o sangue.
Além disso, as placas de gordura localizadas nas artérias podem inflamar, piorando o problema. Por isso, uma pessoa obesa precisa de acompanhamento constante de um cardiologista.
Para sair do sedentarismo, a OMS recomenda que a criança faça diariamente 60 minutos de atividade física moderada. A combinação de exercícios físicos constantes, uma dieta equilibrada e boas noites de sono traz resultados eficazes antes que haja necessidade de qualquer tipo de cirurgia.
Idas ao pediatra
O pediatra é o profissional ideal para perceber se a criança passou do sobrepeso e chegou à obesidade. Ele pode trabalhar em conjunto com um nutricionista ou nutrólogo para alcançar o melhor resultado para o bem-estar da criança.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a criança com dois anos ou mais deve passar por uma consulta pediátrica a cada três meses; a partir dos seis anos, uma vez por semestre. Dos sete aos 18 anos, uma vez por ano. Essa recomendação independe do estado de saúde do pequeno ou adolescente.
Procedimentos cirúrgicos
A obesidade impede que um indivíduo possa fazer uma cirurgia – tanto que, numa bariátrica, muitos pacientes precisam perder de 5% a 10% do excesso de peso antes de qualquer intervenção. Em alguns casos (cirurgias plásticas, por exemplo), o excesso de peso é um impeditivo para passar pelo procedimento.
A cirurgia de redução de estômago e de uma pequena parte do intestino, conhecida como bariátrica, é muito rara em crianças. Além de bastante invasiva, o público mais jovem tem o metabolismo mais rápido e, consequentemente, mais capacidade de perder peso em um período menor, em comparação com um adulto.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) só recomenda a cirurgia para indivíduos com mais de 18 anos. Jovens com idade entre 16 e 18 até podem passar pelo procedimento, mas o risco-benefício precisa ser analisado antes. Já para os mais novos, normalmente a cirurgia só é aprovada se o paciente também tiver alguma síndrome genética.
Para fazer a cirurgia, o paciente deve ter índice de massa corporal (IMC) acima de 35 kg/m².
Obesidade no mundo
Segundo o Atlas, um em cada sete indivíduos no mundo tem obesidade. Contudo, a projeção é que este número chegue a 1 em cada 4 (quase 2 bilhões de indivíduos). Além disso, 4 bilhões de pessoas viverão com sobrepeso (IMC entre 25,0 e 29,9). Um indivíduo obeso é aquele com IMC maior ou igual a 30 kg/m².
A obesidade é um sinal que reflete fatores políticos, culturais e socioeconômicos. Dados apresentados pelos Centers for Disease Control and Prevention mostram que, entre 2011 e 2014, a obesidade infantil diminuía à medida que o nível de escolaridade do chefe de família aumentava.
A prevalência de obesidade foi de 18,9% entre crianças e adolescentes de 2 a 19 anos de idade no grupo de renda mais baixa; 19,9% entre aqueles no grupo de renda média e 10,9% entre aqueles no grupo de renda mais alta.